A
construção da Mensagem ao Partido como espaço de debate
político-programático interno ao PT e de iniciativas nos fóruns partidários, no
parlamento e nos movimentos sociais, data de dez anos. Foi o primeiro sinal
coletivo de busca de uma resposta orgânica à crise gestada ao longo dos anos
noventa. Tal crise se expressa no esvaziamento das instâncias partidárias como
espaços efetivos de condução da tática, na disputa política que se travava.
Amadureceu nos anos que precederam a conquista do governo central e explodiu de
forma bombástica em 2005. Dois anos depois da posse do Presidente
Lula.
A
inciativa de criação da Mensagem mobilizou diferentes setores do Partido
para fazer frente a uma ofensiva da direita cujo objetivo era inviabilizar uma
experiência, inédita na História do Brasil: um Governo Popular liderado pelo
Partido dos Trabalhadores, que mal começava, depois de 22 anos de lutas contados
desde sua fundação. Os setores sociais conservadores se deram conta de que o
governo Lula não seria apenas um acidente, um breve intervalo no secular domínio
social e político que sempre exerceram. E reagiram. Vêm reagindo com todas as
forças e por todos meios ao seu alcance.
Sem
se afastar da tradição histórica da direita, aqui, como em outros lugares do
mundo, o ataque se nutriu da retórica do combate à corrupção. Há um aspecto que
não pode ser ignorado para a adequada compreensão do processo: a virulência do
ataque e sua extensão no tempo. O Partido dos Trabalhadores havia vencido as
eleições e conquistado a Presidência da República dentro das regras
estabelecidas por seus adversários. O que para eles era, sob todos os títulos,
inaceitável. Ainda que para isso tivesse lançado a “Carta aos Brasileiros” como
uma espécie de salvo-conduto pela ousadia de ocupar os espaços até então
privativos das elites políticas tradicionais. Tratava-se, portanto, aos olhos
delas de uma usurpação. E impunha-se a necessidade de criminaliza-lo e construir
as condições para extermina-lo como expressão política das classes que se
encontram na base da pirâmide social. Ainda que para isso o caminho a percorrer
fosse a judicialização e posteriormente a conversão da Política numa atividade
criminosa. Destruir o Partido dos Trabalhadores, mesmo com ele seja destruído o
sistema político do país assentado sobre a Constituição de 1988. Assim os
setores conservadores expressam hoje seu“ódio à
Democracia”.
Aquela
vitória histórica, porém, trouxe consigo um componente sobre o qual devíamos
oferecer – em 2005, como agora – uma resposta, a partir de uma constatação
prática: ao forçar sua presença na cena política do país, o PT modificou a
cultura política anterior dominante, mas com o tempo foi por ela modificado. Ou
seja adotou elementos da prática política que combatia. Absorveu aspectos da
cultura política conservadora, oligárquica, estreitamente vinculada ao poder
econômico, que imprime seu caráter sobre os costumes políticos do país. Foi se
tornando igual aos demais partidos.
A
construção da Mensagem ao Partido responde nacionalmente à busca por
responder a esse desafio. Os militantes que convergiram em torno da proposta
vieram, ao longo do tempo, defendendo a bandeira da Reforma Política como forma
de modernização e democratização do sistema político eleitoral. A introdução do
financiamento público exclusivo das campanhas, portanto, a proibição do
financiamento empresarial, a defesa do voto em lista fechada, com alternância de
gênero na composição da nominata e da proibição das coligações proporcionais que
fraudam o caráter programático que devem manter os partidos políticos numa
democracia madura.
A
ineficácia de todas as tentativas de Reforma Política a partir do próprio
Parlamento apresentadas ao longo dos últimos anos evidencia a funcionalidade do
Sistema Eleitoral vigente para a lógica dos partidos conservadores que, embora
pulverizados, compõem uma consistente maioria ideológica. Ou fisiológica, se
quiserem. Com reflexos dentro do PT.
Registre-se
que o Partido dos Trabalhadores, mesmo tendo conquistado por quatro vezes
consecutivas a Presidência da República, nunca alcançou 20% das Cadeiras da
Câmara Federal. Embora seja evidente que o sistema político brasileiro vive uma
crise de representação, não podemos esperar modificações substantivas baseadas
apenas na iniciativa parlamentar, afinal os deputados e senadores foram eleitos
dentro dos critérios vigentes. Devem, portanto, a esses critérios os mandatos
que conquistaram. Em suma, sem uma forte mobilização popular, sem um decisivo
envolvimento da sociedade, não ocorrerá a Reforma Política que o avanço
democrático reclama.
Um
partido que não aprende com seus próprios erros e não altera sua prática, não
sobrevive, como de resto, qualquer instituição. A oportunidade da realização da
segunda etapa do V Congresso constitui-se numa oportunidade histórica de
reencontro do PT com o impulso original que nutriu sua emergência na cena
política do Brasil há trinta e cinco anos. Ela põe diante de nós, a partir da
complexa realidade do país, que modificamos depois de 12 anos à frente do
governo federal, o desafio de atualizar o Manifesto Programa de fundação,
restabelecer os laços com a base social que conosco se identifica e projetar
nossa ação para os avanços que o projeto da Revolução Democrática
reclama.
Os
dirigentes e militantes que se identificam, a partir de suas correntes internas,
com a Mensagem ao Partido devem oferecer de forma organizada sua
contribuição para esse processo. Não apenas com a produção dos textos
indispensáveis à discussão política e programática, mas com a mobilização dos
espaços de debate e instrumentos de formação – Escola Nacional, Fundação Perseu
Abramo, Secretarias Estaduais, Setoriais Temáticos, particularmente aqueles que
envolvem a juventude, Mandatos Parlamentares … – para arrancar o PT da
injustificável defensiva política em que se encontra e devolvê-lo à iniciativa
frente às forças conservadoras.
A
Mensagem ao Partido vai
estabelecer uma plataforma comum para atuar unificada no calendário de
mobilização proposto pelo Diretório com vistas à participação no V Congresso.
Mas vamos além. Esse processo deve envolver a militância do PT em todas as
cidades do país, em torno dos problemas mais sentidos pela sociedade, no
imediato, a médio e longo prazo, na perspectiva de atualização do Projeto da
Revolução Democrática que projetamos para o Século XXI.
Brasília,
março de 2015.
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