Em primeiro
lugar, desconfie de uma manifestação que é apoiada por Marcelo Rezende, Veja,
FHC, Fiesp e Grupo Bandeirantes (que historicamente sempre foi contra a Reforma
Agrária em seus editoriais). E Veja, o panfleto ideológico da direita paulista,
apoiando povo na rua é de dar arrepios.
Desconfie quando os meios de comunicação
reagem em uníssono dizendo que a insatisfação é geral, que o momento é
histórico e que o Gigante acordou. Dizer que o gigante acordou é fechar os
olhos para que os movimentos sociais, em especial o MST, fizeram durante 30
anos. Há 30 anos o MST marcha pelos latifúndios desse país e pouco apoio ganhou
das ruas e nenhum dos meios de comunicação. Pelo contrário.
Depois,
desconfie de movimentos que se dizem apartidários e que são contra partidos de
esquerda se manifestarem. Entre os que estão nas redes sociais que hoje falam
para ir para a rua estão os mesmos que acham que MST é baderneiro e que menores
de 16 devem ir para a cadeia. Definir o que é ser de esquerda não é fácil, como
já falava José Arbex, mas com certeza, ser de esquerda, entre outras coisas é
ser a favor da reforma agrária, é ser contra a redução da maioridade penal.
A discussão entre ser pacífico e ser vândalo é
pano de fundo para o aproveitamento dos setores conservadores de levar esse
movimento todo para um retrocesso dos poucos avanços que tivemos nesses anos.
Claro, se a direita se aproveitar disso tudo, a culpa também é de quem hoje
está no poder, que não soube de fato agudizar as reformas necessárias quando o
poder lhe foi dado pelas urnas.
Fico triste
pelos alunos, colegas e outros intelectuais que se uniram ao movimento achando
que era um ressurgimento das ruas. De fato havia essa possibilidade. O
movimento começou encabeçado por uma causa específica empunhada por um grupo à
margem das entidades estudantis cooptadas pela máquina governamental. A
repressão policial deu ao movimento a dose de simpatia que outros movimentos
tiveram ao longo da história e levou às ruas pessoas simpáticas às causas,
intelectuais de esquerda e uma massa que sempre adere às ondas da moda (sejam
elas manifestações políticas, enterros de celebridades, caminhadas ecológicas
ou outros movimentos conduzidos pela indústria cultural do momento).
Infelizmente parece que essa massa vai ser cooptada pela direita. Como lembrou
o professor Lúcio Flávio, em 64, o discurso era o mesmo...
Após a
diminuição do valor das passagens, concordo com os colegas que a esquerda
precisa recuperar as ruas e aprender com esse movimento. E também concordo com
as análises que as novas manifestações precisam de objetivos pontuais. Quer um
pontual? Uma verdadeira revolução foi feita na Escola Nacional Florestan
Fernandes (ENFF). É uma escola de formação política dos trabalhadores, feita
pelos trabalhadores, conduzida pelos trabalhadores. Mas enfrenta dificuldades
financeiras. Ir às ruas recolher apoio para a ENFF é um claro objetivo
concreto. Será que alguém está disposto a ir para Paulista, postar foto no FB
para defender uma escola ligada ao MST?
Para quem
não me conhece fui carapintada em 92 e tive a ilusão de que eu e meus colegas
parando a Paulista derrubamos o Collor. O Collor já tinha sido derrubado pelos
próprios setores conservadores e nossa presença nas ruas apenas acelerou o
processo. Na época achava que estávamos mudando o país. Dos meus colegas que
foram à Paulista, só um grupo acabou se organizando no que se tornaria o grêmio
estudantil. Os demais estavam lá pela onda, por querer não ficar de fora do era
“in” (A série Anos Rebeldes “bombava” como hoje “bombam” as redes sociais). Dos
que fundaram o grêmio, alguns seguiram por vários comaninhos as passeatas
poucos hoje ainda atuam na política. Fui para o PT, mas muito antes de ganharem
o governo federal percebi que o horizonte histórico do socialismo tinha sido
trocado pelo pragmatismo da vitória eleitoral e deixei a atuação de militante
do partido.
Fui para os movimentos sociais e encontrei o
espírito da esquerda primeiro no Grupo Tortura Nunca Mais e depois, finalmente,
no MST e nos Zapatistas. Desde então, tenho me dedicado a estudar a comunicação
e cultura populares na América Latina. Vi com alegria a chegada de Lula no
poder e as conquistas, mesmo que mínimas, no plano interno, mas principalmente
no plano externo, com a aproximação dos países do Sul. O saldo do PT no poder
seria positivo apenas pela aproximação com a Bolívia de Evo Morales, por
exemplo. Se há muito o que criticar e melhorar nos governos do PT,
principalmente nesse último que tem dado apoio demais ao agronegócio, à
indústria jornalística e tem retrocedido no apoio aos países do sul, é muito
mais triste pensar na volta dos grupos conservadores que engavetariam a
comissão da verdade e que voltariam a criminalizar os movimentos sociais, como
criminalizaram o inicio das manifestações.
Demorei para me manifestar, pois ainda tentava
entender o quadro, principalmente pelos amigos que vi se posicionando sobre o
movimento. Tomara que eu esteja errado, que a direita não faça a cooptação do
movimento e eu reescreva tudo isso. Tomara... mas o que vejo sendo postado a cada
minuto nas redes não me dá muita esperança.
Entre dezenas, compartilho dois, pois são
relatos de quem acompanhou de perto:
https://medium.com/primavera-brasileira/dfa6bc73bd8a
Em tempo...
antes que o pessoal do # disser que esquerda e direita são coisas do passado, é
bom lembrar que a direita adora esse discurso e que as grandes mobilizações
populares da história estão sempre ligadas com a esquerda.
Em tempo 2... o texto é para reflexão dos
companheiros da esquerda, como é típico dela, gostar dos debates, das
reflexões, faz parte da história da esquerda.
Meu, esse povo ainda acha que a esquerda é o mocinho da história e a direita são os demônios... E a direita acha exatamente ao contrário... Quanta ingenuidade! Achar que os movimentos foram levantados por esse ou por aquele lado da força política é uma piada! É só escutar o grito de quem foi às manifestações contra os políticos corruptos sejam de esquerda ou direita: "Sem partido!" e "Nenhum partido me representa" A verdade é que tanto a "esquerda" quanto a "direita", se é que essas duas ainda existem, se preocupam com um projeto de poder e não um projeto de nação. Por isso nem a Dilma e nem o Lula são demônios, assim como nem o Alckimin ou FHC também o são. Todos tem seus erros e acertos. Eu confiaria mais nos políticos se eles dissessem assim: "Isso é bom pro país" e não perguntassem aos marketeiros de plantão "Se isso é bom pra minha imagem". Piada...
ResponderExcluirDemocracia e Cidadania requer publicidade, vamos sair do anonimato.
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