quarta-feira, 26 de junho de 2013

Porque o militante de esquerda deve estar cético com as “manifestações”

Em primeiro lugar, desconfie de uma manifestação que é apoiada por Marcelo Rezende, Veja, FHC, Fiesp e Grupo Bandeirantes (que historicamente sempre foi contra a Reforma Agrária em seus editoriais). E Veja, o panfleto ideológico da direita paulista, apoiando povo na rua é de dar arrepios.
 Desconfie quando os meios de comunicação reagem em uníssono dizendo que a insatisfação é geral, que o momento é histórico e que o Gigante acordou. Dizer que o gigante acordou é fechar os olhos para que os movimentos sociais, em especial o MST, fizeram durante 30 anos. Há 30 anos o MST marcha pelos latifúndios desse país e pouco apoio ganhou das ruas e nenhum dos meios de comunicação. Pelo contrário.
Depois, desconfie de movimentos que se dizem apartidários e que são contra partidos de esquerda se manifestarem. Entre os que estão nas redes sociais que hoje falam para ir para a rua estão os mesmos que acham que MST é baderneiro e que menores de 16 devem ir para a cadeia. Definir o que é ser de esquerda não é fácil, como já falava José Arbex, mas com certeza, ser de esquerda, entre outras coisas é ser a favor da reforma agrária, é ser contra a redução da maioridade penal.
 A discussão entre ser pacífico e ser vândalo é pano de fundo para o aproveitamento dos setores conservadores de levar esse movimento todo para um retrocesso dos poucos avanços que tivemos nesses anos. Claro, se a direita se aproveitar disso tudo, a culpa também é de quem hoje está no poder, que não soube de fato agudizar as reformas necessárias quando o poder lhe foi dado pelas urnas.
Fico triste pelos alunos, colegas e outros intelectuais que se uniram ao movimento achando que era um ressurgimento das ruas. De fato havia essa possibilidade. O movimento começou encabeçado por uma causa específica empunhada por um grupo à margem das entidades estudantis cooptadas pela máquina governamental. A repressão policial deu ao movimento a dose de simpatia que outros movimentos tiveram ao longo da história e levou às ruas pessoas simpáticas às causas, intelectuais de esquerda e uma massa que sempre adere às ondas da moda (sejam elas manifestações políticas, enterros de celebridades, caminhadas ecológicas ou outros movimentos conduzidos pela indústria cultural do momento). Infelizmente parece que essa massa vai ser cooptada pela direita. Como lembrou o professor Lúcio Flávio, em 64, o discurso era o mesmo...
Após a diminuição do valor das passagens, concordo com os colegas que a esquerda precisa recuperar as ruas e aprender com esse movimento. E também concordo com as análises que as novas manifestações precisam de objetivos pontuais. Quer um pontual? Uma verdadeira revolução foi feita na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). É uma escola de formação política dos trabalhadores, feita pelos trabalhadores, conduzida pelos trabalhadores. Mas enfrenta dificuldades financeiras. Ir às ruas recolher apoio para a ENFF é um claro objetivo concreto. Será que alguém está disposto a ir para Paulista, postar foto no FB para defender uma escola ligada ao MST?

Para quem não me conhece fui carapintada em 92 e tive a ilusão de que eu e meus colegas parando a Paulista derrubamos o Collor. O Collor já tinha sido derrubado pelos próprios setores conservadores e nossa presença nas ruas apenas acelerou o processo. Na época achava que estávamos mudando o país. Dos meus colegas que foram à Paulista, só um grupo acabou se organizando no que se tornaria o grêmio estudantil. Os demais estavam lá pela onda, por querer não ficar de fora do era “in” (A série Anos Rebeldes “bombava” como hoje “bombam” as redes sociais). Dos que fundaram o grêmio, alguns seguiram por vários comaninhos as passeatas poucos hoje ainda atuam na política. Fui para o PT, mas muito antes de ganharem o governo federal percebi que o horizonte histórico do socialismo tinha sido trocado pelo pragmatismo da vitória eleitoral e deixei a atuação de militante do partido.
 Fui para os movimentos sociais e encontrei o espírito da esquerda primeiro no Grupo Tortura Nunca Mais e depois, finalmente, no MST e nos Zapatistas. Desde então, tenho me dedicado a estudar a comunicação e cultura populares na América Latina. Vi com alegria a chegada de Lula no poder e as conquistas, mesmo que mínimas, no plano interno, mas principalmente no plano externo, com a aproximação dos países do Sul. O saldo do PT no poder seria positivo apenas pela aproximação com a Bolívia de Evo Morales, por exemplo. Se há muito o que criticar e melhorar nos governos do PT, principalmente nesse último que tem dado apoio demais ao agronegócio, à indústria jornalística e tem retrocedido no apoio aos países do sul, é muito mais triste pensar na volta dos grupos conservadores que engavetariam a comissão da verdade e que voltariam a criminalizar os movimentos sociais, como criminalizaram o inicio das manifestações.
 Demorei para me manifestar, pois ainda tentava entender o quadro, principalmente pelos amigos que vi se posicionando sobre o movimento. Tomara que eu esteja errado, que a direita não faça a cooptação do movimento e eu reescreva tudo isso. Tomara... mas o que vejo sendo postado a cada minuto nas redes não me dá muita esperança.
 Entre dezenas, compartilho dois, pois são relatos de quem acompanhou de perto:
 https://medium.com/primavera-brasileira/dfa6bc73bd8a
Em tempo... antes que o pessoal do # disser que esquerda e direita são coisas do passado, é bom lembrar que a direita adora esse discurso e que as grandes mobilizações populares da história estão sempre ligadas com a esquerda.

 Em tempo 2... o texto é para reflexão dos companheiros da esquerda, como é típico dela, gostar dos debates, das reflexões, faz parte da história da esquerda.

2 comentários:

  1. Meu, esse povo ainda acha que a esquerda é o mocinho da história e a direita são os demônios... E a direita acha exatamente ao contrário... Quanta ingenuidade! Achar que os movimentos foram levantados por esse ou por aquele lado da força política é uma piada! É só escutar o grito de quem foi às manifestações contra os políticos corruptos sejam de esquerda ou direita: "Sem partido!" e "Nenhum partido me representa" A verdade é que tanto a "esquerda" quanto a "direita", se é que essas duas ainda existem, se preocupam com um projeto de poder e não um projeto de nação. Por isso nem a Dilma e nem o Lula são demônios, assim como nem o Alckimin ou FHC também o são. Todos tem seus erros e acertos. Eu confiaria mais nos políticos se eles dissessem assim: "Isso é bom pro país" e não perguntassem aos marketeiros de plantão "Se isso é bom pra minha imagem". Piada...

    ResponderExcluir
  2. Democracia e Cidadania requer publicidade, vamos sair do anonimato.

    ResponderExcluir