Ao considerarmos a célebre
frase de Abraham Lincoln, de que a democracia é um “governo do
povo, pelo povo e para o povo”, poderemos afirmar que em nosso
país, nossa “jovem democracia”, ainda carece de um longo caminho
a percorrer, para afirmarmos que vivemos num verdadeiro Estado
Democrático.
Em que pese estarmos vivendo
um dos maiores períodos democrático da história de nosso país,
ainda carregamos vícios insuperáveis da formação do Estado
Brasileiro, sendo o principal deles a característica indelével de
ainda termos um Estado essencialmente patrimonialista, na concertação
dos diversos interesses existentes na sociedade brasileira.
Apesar de nossa Constituição
garantir em seus artigos iniciais de que todo
poder emana do povo
e de que todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
sabemos que ainda nos dias atuais, as relações de poder são
fortemente marcadas por aqueles que detêm de fato patrimônio
material como substrato do poder político.
Esta característica do Estado
brasileiro tem obstaculizado avanços importantes em nossa
democracia, uma vez que o controle tanto dos destinos de nosso país,
como do processo de escolha daqueles que exercerão a função de
governos, são fortemente marcados pelo poder econômico. Daí a
razão das políticas emanadas deste Estado, na maioria das vezes ao
longo de sua história, vir contra as aspirações da maioria do
povo, pois, concebidas a partir de interesses particulares, em
detrimento do interesse público.
Esse Estado herdado traz
consequências e desafios àqueles que buscam conceber um novo modelo
de Estado necessário, que inverta a lógica do atendimento dos
interesses particulares, em busca do atendimento das necessidades
básicas da maioria de sua população.
Em que pese todos os esforços
dos governos de esquerda nessa nossa caminhada democrática no
período pós-ditadura, o nosso arcabouço político, jurídico e
institucional ainda possui características e sofre forte influência
do poder econômico nas suas relações de poder. Vejamos:
-
Nossa economia é influenciada pelos ditames do pensamento financeiro global, que aprisiona as ações governamentais em sentido oposto, com fortes ataques especulativos;
-
Nosso sistema político-eleitoral é corrompido pelo abuso do poder econômico no processo de escolha dos representantes do povo, o que deslegitima nossos governantes, extraindo deles a autonomia e independência necessária no exercício de suas atribuições legais na busca do interesse público;
-
Nossos poderes constituídos e suas instituições estatais, ainda estão herméticos a uma maior participação social nas definições de suas atribuições, e o acesso a essas funções é fortemente marcada pelo viés econômico-social-étnico de seus pretendentes.
A partir das constatações
acima, alguma dúvida ainda poderia persistir sobre o caráter de
nosso arcabouço jurídico institucional e as dificuldades
enfrentadas pelos governos de esquerda em implementar políticas
sociais que garantam os mínimos necessários para o exercício da
cidadania do povo brasileiro?
Caberá aos governos
democráticos e populares procurar conhecer as estruturas desse
Estado, desvendar os entraves que impedem a sua democratização,
ampliar os controles sociais sobre ele, para que se volte aos
interesses públicos de uma maioria, ainda hoje silenciosa.
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