Crítico
à austeridade e ao imperialismo é novo líder do Partido Trabalhista
inglês
No
dia 12 de setembro, o Partido Trabalhista inglês elegeu Jeremy Corbyn como seu
novo líder, com quase 60% dos votos. Corbyn é membro do Parlamento desde 1983 e
está bastante à esquerda com relação às posições assumidas pelo partido desde a
terceira via de Tony Blair: o novo líder se opõe às políticas neoliberais e às
medidas de austeridade, defende a reestatização de serviços públicos lucrativos,
como os transportes, é anti-imperialista, defende o desarmamento nuclear
unilateral pela Inglaterra e apoia a causa Palestina.
Corbyn
era inicialmente o último colocado na disputa, mas mudanças nas regras
eleitorais internas e o engajamento de muitos apoiadores jovens permitiram um
crescimento expressivo de sua campanha. Estas foram as primeiras eleições
internas com novas regras. Até então, a escolha se dava por três colégios
eleitorais: os trabalhistas no parlamento, a militância e os apoiadores filiados
a sindicatos, cada grupo correspondia a 1/3 dos votos. O novo sistema eliminou o
peso diferenciado e estabeleceu o mecanismo um eleitor-um voto. Além disso,
passou a incluir uma nova categoria: embora não tenha todos os direitos de
membros plenos, é possível votar como “apoiador registrado” mediante o pagamento
de 3 libras até 30 dias antes do pleito. A expectativa dos setores mais
conservadores do partido era engajar novos eleitores e aumentar o peso dos
filiados (que em 2010 foi o grupo no qual o candidato apoiado por Tony Blair
recebeu mais votos, contra o grupo dos sindicatos). Além da mudança de regras,
Corbyn conseguiu o apoio dos maiores sindicatos ingleses, a reaproximação de
antigos militantes do partido, muitos dos quais tinham se afastado após a
intervenção no Iraque em 2003, e de muitos jovens que até então não se
identificavam com o partido.
Os
refugiados e a indústria bélica na Europa
Nas
últimas semanas o noticiário internacional tem sido dominado pela crise
humanitária dos refugiados na Europa: naufrágios cotidianos de embarcações
precárias, redes e rotas de tráfico, violência policial, cercas nas fronteiras,
práticas condenáveis por parte de autoridades migratórias como a identificação
de pessoas com braceletes, números e tintas indeléveis, campos de refugiados que
lembram campos de concentração, reações xenófobas por parte de políticos e
cidadãos. Simultaneamente, as notícias relatam manifestações de solidariedade e
acolhida por parte de ativistas, voluntários, clubes de futebol, cidadãos comuns
e líderes políticos, como as declarações da chanceler alemã Angela Merkel, que
afirmou na semana passada a capacidade do país receber 500 mil refugiados por
ano, durante vários anos. Em pouco tempo o país anunciou que o limite para 2015
fora alcançado e determinou nos últimos dias o fechamento da fronteira com a
Áustria para imigrantes e refugiados e, portanto, uma suspensão parcial do
Acordo de Schengen (que aboliu o controle de fronteiras entre os países membros
da União Europeia-UE). Ainda por iniciativa alemã, na segunda-feira passada
(14/9) o conselho de ministros da UE se reuniu para debater o estabelecimento de
cotas para refugiados, com a intenção de distribuir 120 mil pessoas entre os
países do bloco (número bem inferior à demanda). Até o momento, as cotas sofrem
fortes resistências da Dinamarca, Polônia, Hungria, República Tcheca e
Eslováquia. A adoção de cotas seria uma forma de contornar os acordos de Dublin,
que estabelecem que o pedido de refúgio deve ser feito no primeiro país de
chegada ao bloco, o que sobrecarrega países fronteiriços como Grécia, Itália e
Malta.
Para
além da narrativa cotidiana dos fatos das últimas semanas, vale a pena situar o
quadro atual num cenário mais amplo. Em primeiro lugar, cabe lembrar que o
conflito sírio já produziu até o momento quase 4 milhões de refugiados, dos
quais a absoluta maioria não está na Europa, mas em campos, muitas vezes
semelhantes ou piores a prisões, na Turquia, na Jordânia, no Líbano e no Iraque.
Contudo, não são apenas sírios que chegam atualmente à Europa, mas nacionais de
outras regiões em conflito, como Sudão, Eritreia e Líbia, entre outros. Esse
movimento, aliás, tem sido recorrente há anos, embora o fluxo tenha realmente
aumentado nos últimos meses a partir da Síria. Desde os anos 2000, a UE vem
endurecendo as leis da fortaleza-Europa, criminalizando a imigração
indocumentada (que por meio da diretiva do retorno permite a prisão por até 18
meses de imigrantes), estabelecendo sistemas de informação e vigilância, como a
agência Frontex e acordos bilaterais com países africanos para a implementação
de medidas de contenção, que muitas vezes interceptam embarcações fora de águas
europeias e violam indiretamente o princípio de não devolução de pessoas sob
risco. Entre 2002 e 2013, segundo o grupo de jornalistas investigativos
Migrants’ Files, as empresas Airbus, Finmeccanica e Thales receberam grande
parte do orçamento de 225 milhões de euros em contratos para adensar as defesas
das fronteiras europeias, com tecnologias de controle e vigilância, como
softwares, drones, satélites, sensores e robôs. Com a chegada de grande número
de refugiados e imigrantes, estas empresas estão atentas às oportunidades de
expansão dos negócios
Além
disso, é necessário considerar a participação direta de países europeus em
várias intervenções militares que hoje geram grandes fluxos de refugiados, como
no Iraque, no Afeganistão e a intervenção da Organização do Tratado do Atlântico
Norte (Otan) na Líbia, assim como o interesse da lucrativa indústria de
armamentos na recorrência de conflitos e instabilidades ao redor do mundo.
Segundo dados do SIPRI, conceituado instituto de pesquisa na área, a Alemanha,
por exemplo, é o terceiro fornecedor mundial de armamentos, atrás somente dos
EUA e da Rússia e seguida da França e do Reino Unido. Entre 2004 e 2014, a
indústria bélica alemã e francesa estiveram entre os principais fornecedores de
países que são reconhecidamente promotores do conflito na Síria, como a Turquia,
a Arábia Saudita e os Emirados Árabes. Os três aliás estão na lista dos oito
maiores compradores mundiais de armamentos (os Emirados estão na terceira
posição, atrás somente de Índia e China).
Colômbia
e Venezuela anunciam medidas para normalizar relações na
fronteira
Na
tarde de segunda-feira, dia 21 de setembro, os presidentes Nicolas Maduro e Juan
Manuel Santos se encontraram em Quito, sob os auspícios dos presidentes Rafael
Correa e Tabaré Vázquez, que exercem respectivamente as presidências rotativas
da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e da União de
Nações Sul-Americanas (Unasul). Após a reunião, os presidentes anunciaram o
retorno imediato dos respectivos embaixadores, uma investigação profunda sobre a
situação na fronteira, o estabelecimento de grupos de trabalho ministeriais para
seguirem a cooperação em temas sensíveis, com uma reunião já na nesta
quarta-feira, 23, em Caracas, e a progressiva normalização da situação
fronteiriça. Na coletiva de imprensa realizada na noite de segunda-feira,
Nicolas Maduro destacou o triunfo da sensatez e do diálogo; Santos por sua vez
lembrou a cooperação dos dois países em temas de interesse comum e reconheceu o
papel da Venezuela nos diálogos de paz na Colômbia.
A
recente tensão entre os dois países teve início em 19 de agosto quando o governo
venezuelano fechou a fronteira com a Colômbia em seis municípios no Estado de
Táchira. Ao longo deste período, as restrições foram ampliadas a outros
municípios nos estados de Táchira, Zulia e Apure. O fechamento de parte da
fronteira e o anúncio do estado de exceção ocorreram após ataques de
paramilitares colombianos que deixaram mortos militares venezuelanos. As medidas
têm o objetivo de combater o intenso contrabando de gasolina, medicamentos e
alimentos subsidiados por Caracas e desviados para a venda em território
colombiano, o que agrava a escassez de alimentos na Venezuela. Segundo dados da
Telesur, 45 mil barris de gasolina são contrabandeados anualmente, o que
equivaleria a perdas de US$ 200 milhões. Apesar do objetivo central ser o
combate aos traficantes e paramilitares, as medidas afetam a população nos dois
lado da fronteira. Cerca de mil colombianos fugiram da Venezuela temendo a
deportação e algumas centenas foram deportados. Segundo estimativas, há 5,7
milhões de colombianos residentes na Venezuela, muitos dos quais deslocados pelo
conflito interno na Colômbia.
As
tensões ocorrem às vésperas das eleições municipais na Colômbia, que acontecerão
em 25 de outubro, e das eleições parlamentares na Venezuela, em dezembro
próximo. Segundo informações da imprensa colombiana, a relação bilateral entre
os dois países tem dominado a pauta eleitoral de grandes cidades, como Bogotá.
Sobrepõe-se às relações diplomáticas, as discussões sobre o processo de paz
entre as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo, já que a
Venezuela desempenha um papel importante na garantia das negociações. Neste
cenário, o acirramento das tensões tem sido usado eleitoralmente por setores
políticos, como do ex-presidente e atual senador Álvaro Uribe, que fazem
oposição às negociações com a guerrilha. O uso eleitoral do episódio em parte é
respaldado por sondagens de opinião que, ao longo deste ano, apontam queda na
popularidade do presidente Juan Manuel Santos e diminuição no apoio a uma
solução negociada ao conflito. Segundo dados de pesquisa do instituto Gallup,
ainda que dentro da margem de erro, no mês de julho, pela primeira vez desde
2003, o percentual de colombianos favoráveis a uma solução militar (46%) foi
maior que aqueles que defendem uma solução negociada (45%).
A
normalização das relações entre os dois países é de fundamental importância,
tanto para a continuidade do processo de paz na Colômbia, quanto para a
consolidação do papel da Unasul e da Celac na promoção da estabilidade regional
e da resolução de eventuais conflitos, a partir de uma perspectiva autônoma.
Ainda no domingo, um reforço importante foi dado pelo papa Francisco que,
durante missa na Praça da Revolução em Havana, saudou o papel de Cuba na
mediação do diálogo entre governo e guerrilha e exortou as partes a encontrarem
uma solução negociada definitiva para o conflito.
Nova
vitória do Syriza na Grécia
No
último sábado, 19 de setembro, os gregos foram novamente às urnas para formar um
novo governo. As eleições ocorreram um mês após a renúncia do premiê Tsipras,
motivada então pela erosão do apoio de sua base no Parlamento frente ao
rompimento de 25 deputados do Syriza que, aliados a outros movimentos, formaram
o partido Unidade Popular (anti-austeridade e pela saída da Grécia da Zona do
Euro).
A
votação do domingo confirmou o apoio ao Syriza, que obteve 35,5% dos votos
(menos de 1% abaixo dos resultados de janeiro). Pela regra que garante 50
cadeiras extras ao primeiro colocado, o partido ficou com 145 parlamentares (4 a
menos). Nesta segunda, Tsipras assumiu novamente como primeiro-ministro, mais
uma vez com o apoio dos Gregos Independentes, que elegeram 10 parlamentares (3 a
menos).

A
distribuição de votos não teve alterações significativas se comparada às
eleições de janeiro. Os destaques desta eleição são o mau desempenho da Unidade
Popular, cujos parlamentares respondiam por cerca de um quinto dos votos do
Syriza, mas pela nova legenda não ultrapassaram a cláusula de barreira; a
chegada pela primeira vez ao Parlamento do partido União de Centristas; a alta
abstenção, que passou de 36% em janeiro para 45%; e a discrepância entre os
atuais resultados e as pesquisas de intenção de voto. Poucos dias antes do
pleito, as sondagens previam um empate técnico entre o Syriza e a Nova
Democracia, com cerca de 31% de votos cada, mas os resultados mostraram uma
diferença de cerca de 7,5% entre o primeiro e o segundo colocados.
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