Salário mínimo e o
combate à desigualdade no Brasil
Texto de discussão de Alessandra Brito (IBGE),
Miguel Foguel (IPEA) e Celia Kerstenetzky (CEDE-UFF) estima o efeito
global da política de valorização do salário mínimo (SM) sobre a evolução
da desigualdade da renda domiciliar nas duas últimas décadas no Brasil
(1995-2013), incluindo além do mercado de trabalho a Previdência e a
assistência social constitucional (BPC).
Como o salário mínimo está vinculado à Previdência como piso oficial de
aposentadorias e pensões, qualquer alteração de seu valor tende a mexer
na distribuição de rendimentos, pois mais da metade dos aposentados e
pensionistas recebem exatamente 1 SM. No mercado de trabalho, o SM afeta
diretamente um contingente entre 10% e 15% dos trabalhadores ocupados.
Entre 1995 e 2013, o índice de Gini apresentou uma redução de 12,2%.
Devido à política de valorização do SM, que sofreu aumento real de 116,3%
entre 1995 e 2015, e à crescente formalização das relações de trabalho,
as atenções têm se voltado para o papel que o SM teria desempenhado na
evolução recente da desigualdade de renda. O artigo aponta que a
literatura nacional é quase consensual na constatação do papel
desconcentrador que o piso salarial legal teve nos últimos anos no
Brasil.
Considerando 1995 a 2013, o estudo mostra que que o SM contribuiu em
quase ¾ da redução da desigualdade da renda domiciliar per capita
medida pelo índice de Gini, sendo o canal da Previdência o de maior
destaque (com peso de aproximadamente 38% na redução da desigualdade de
renda no período). Ainda, o SM pelo canal do BPC afeta diretamente os
rendimentos de quatro milhões de pessoas, contribuindo em média com 8,4%
para a redução da desigualdade entre 1995 e 2013.
Faz-se importante recuperar a importância da política de valorização do
SM nos últimos anos, em especial dado o horizonte de risco de retrocesso
com as propostas de um possível governo Temer para a área trabalhista,
que ameaçam não só as conquistas dos anos 2000, mas até mesmo a CLT.
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