Atentados à sede do
PT
Na 5ª feira, 30/7, a sede do PT sofreu dois atentados. No primeiro,
durante a madrugada, os vidros de entrada foram atacados a golpes
de picareta, deixando a fachada do prédio totalmente destruída. O
ataque foi cometido por Emilson Chaves Silva, de 38 anos, que
foi levado por uma viatura da Polícia Militar à 8ª Delegacia, onde
o caso foi registrado como crime de danos contra o patrimônio.
Ainda que assumindo a responsabilidade pelo atentado e ameaçando
voltar para destruir a sede e matar membros do partido, o homem foi
liberado.
Na mesma tarde, o autor do ataque voltou à sede do PT e arremessou
uma bomba de fabricação caseira que não chegou a explodir. Foi
novamente levado, dessa vez na 1ª Delegacia de Polícia e detido por
cinco dias.
O ataque à sede do PT denota tendências de profunda intolerância
política. Agindo por conta própria, em nome de um grupo ou em
submissão a alguém, o atentado é a expressão de uma atitude
totalitária, unicamente orientada por seus próprios interesses, que
não admite os direitos da coletividade e a liberdade de opinião.
Não existe, para o pensamento totalitário, opiniões, atitudes e
valores distintos dos seus.
O que preocupa é a formação de indivíduos ou grupos potencialmente
fascistas, particularmente suscetíveis à propaganda ideológica
antiesquerda. Esses indivíduos se desenvolvem sob a influência do
meio social, e não isoladamente. Nos últimos anos, uma onda de
ataques, hostilização, intolerância, ódio e violência tem atingido
o PT, seus membros e a ideologia de esquerda do país. Segundo
o vice-presidente do partido, Alberto Cantalice, "foi um
ataque promovido por uma pessoa alimentada pelo ódio diário que
parte da mídia e a direita alimentam contra o Partido dos
Trabalhadores".
Não podemos perder de vista o importante papel que a mídia e a
direita têm exercido na consolidação do golpe antidemocrático que
está em curso, por meio da espetacularização das notícias, do
caráter tendencioso e seletivo ao mostrar os fatos, bem como pela
ausência de contrainformações, espaço de contra-argumentação e
direito de resposta. Nas palavras do presidente do PT, Rui Falcão,
o atentado contra o PT é “provocado por essa onda de intolerância
que é estimulada pela grande mídia, inclusive”.
A ditadura foi derrotada recentemente e por isso não podemos
aceitar atitudes dessa natureza, tampouco permitir que o ódio e a
intolerância se reproduzam abertamente, intimidando o pensamento e
as agremiações de esquerda em nossa sociedade. Nossa época e nosso
país primam pela democracia, e nenhuma tendência político-social
pode impor ameaças a valores e instituições.
O PT é fruto de um determinado processo histórico, resultado de uma
época e talvez a representação mais legítima da consolidação de uma
agremiação partidária no Brasil pós redemocratização. A negação de
sua importância histórica e a tentativa de intimidá-lo,
exterminá-lo ou criminalizá-lo abrem precedentes para a ameaça à
liberdade de expressão, à diversidade, à busca de visibilidade de
grupos minoritários e à redução da desigualdade, sinais
característicos dos governos que se estabeleceram ao longo dos
últimos 13 anos.
Outras
faces do golpe e estratégias para sua consolidação
A tentativa de extinção do PT passa não somente por atentados, mas
sobretudo pelo golpe do qual o governo da presidenta Dilma,
legitimamente eleito, foi vítima. O afastamento da presidenta sem
crimes de responsabilidade, como apurado pelos peritos que analisam
o processo de impeachment, evidencia a tentativa de destituição,
não apenas da imagem do partido e seus dirigentes, por meio de
denúncias e vazamentos seletivos de informações, como também por
meio da revogação de decretos já assinados pela presidenta afastada
próximo à data de votação da admissibilidade do processo de
impeachment.
Figuram entre esses decretos projetos de interesse nacional como o
de desapropriação de imóveis rurais para reforma agrária e
regularização de terras quilombolas e indígenas e o projeto que
revê os autos de resistência e estabelece procedimentos para a
apuração de mortes envolvendo a ação policial. Além desses, o
pacote de combate à corrupção - que, entre outras medidas,
criminaliza o caixa dois em atividades relacionadas a prestação de
contas de partidos políticos ou campanha eleitoral e o
enriquecimento ilícito de funcionários públicos -, e o que trata da
indisponibilidade de bens de proveniência ilícita, perderam o
caráter de urgência na tramitação na Câmara.
Paralelamente, com a discussão sobre a renegociação das dívidas dos
estados e a emenda ao PL de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2017,
que permite que as bancadas representantes dos Estados apresentem
até três emendas à LDO, além do apoio financeiro de quase R$ 3
bilhões ao governo do estado do Rio de Janeiro, entre outras,
sinalizam para uma tentativa de fortalecimento do governo interino
junto aos estados e sua base.
No mesmo sentido de consolidação de sua força, Temer se reuniu, no
dia 5/7, com 13 senadores: Ricardo Ferraço (PSDB-ES) e Magno Malta
(PR-ES); Ciro Nogueira (PP-PI), bancada do PPS (oito deputados e um
senador, Cristovam Buarque (DF)); o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), Ataídes Oliveira (PSDB-TO), Omar Aziz
(PSD-AM), Otto Alencar (PSD-BA), Roberto Rocha (PSB-MA), Romero
Jucá (PMDB-RR), Simone Tebet (PMDB-MS), Rose de Freitas (PMDB-ES) e
Eduardo Braga (PMDB-AM). Também teve um encontro com Eduardo Cunha
na semana anterior, em 26/7, cujo motivo alegado foi a sucessão da
presidência da Câmara, a pedido de Cunha.
Por outro lado, medidas como aumento no Bolsa Família em 12%, a
tentativa de redução de despesas com a extinção de 10.462 cargos de
Direção e Assessoramento Superiores (DAS), substituindo-os por
funções de confiança, denominadas Funções Comissionadas do Poder
Executivo (FCPE), tentam reverter a avaliação negativa e baixa
popularidade do governo golpista junto à opinião pública.
Pesquisa
IBOPE de Avaliação do Governo
O Ibope divulgou, no último dia 1/7, sua primeira pesquisa de
avaliação do governo Temer, realizada entre os dias 24 e 27 de
junho, que reafirma o descontentamento com o governo levantado nas
pesquisas MDA, Vox Populi e Ipsos. Na pesquisa Ibope, 13% da
população avaliam o governo como ótimo ou bom, praticamente o mesmo
percentual referente ao governo Dilma Rousseff, em março, e 39% o
avaliam como ruim ou péssimo.
Gráfico
Av Gov - 2014 em diante
Cerca de metade da população (53%) desaprova a maneira de
governar do presidente interino e 31% aprovam. Impostos, taxas de
juros, saúde e segurança pública são as áreas em que a população
mais desaprova o governo atual, com taxas de desaprovação superiores
a 70% (77%, 76%, 73% e 72%, respectivamente).
Para 40% dos entrevistados, as notícias recentes são mais
desfavoráveis ao governo do que favoráveis (18%), muito embora mais
da metade dos entrevistados (63%) não lembre ou não mencione
nenhuma notícia. Entre as notícias mais lembradas, destacam-se as
que tratam da queda de ministros do governo Temer por denúncias de
corrupção e suspeitas de obstrução da Justiça, citadas por 7% do
total.
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