quinta-feira, 21 de julho de 2016

BOLETIM DE POLÍTICA E OPINIÃO PÚBLICA - FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO

Ano 1 - nº 16 - de 14 a 20/7/2016

Temer está entre os presidentes mais impopulares aos dois meses de mandato
No último final de semana, 16/7, o Datafolha divulgou sua primeira pesquisa de avaliação do governo interino. Temer está entre os presidentes  com menores taxas de aprovação aos dois meses de governo, da série histórica medida desde 1987. Quando Collor assumiu, em março de 1990, sua avaliação positiva era de 71%, segundo o Datafolha, e, dois meses depois, o Ibope registrava 17% de aprovação, cinco pontos acima do resultado obtido agora, com o mesmo tempo de mandato, pelo governo interino.


Com dois meses de mandato, em fevereiro de 1992, o governo Itamar obtinha 36% de avaliação positiva, segundo o Datafolha. Já o primeiro governo de Fernando Henrique, há dois meses, em março de 1995, gozava de avaliação positiva de 39%, segundo o Datafolha, e 41%, segundo o Ibope. E, depois de dois meses do 2o mandato, em fevereiro de 1999, obtinha 21% de avaliação favorável, segundo o Datafolha, e 22%, em março, medido pelo Ibope.

O ex-presidente Lula, no mesmo período do 1o mandato, em março de 2003, tinha avaliação positiva de 43%, segundo o Datafolha e 51% segundo o Ibope. No mesmo período no 2o mandato, em março de 2007, Lula mantinha a avaliação positiva majoritária, com 48% de avaliação entre ótimo e bom, segundo o Datafolha, e 49%, segundo o Ibope.

Em março de 2010, com dois meses de mandato, Dilma tinha 47% de avaliação ótima/boa, segundo o Datafolha, e alcançava o recorde para o período, segundo o Ibope, com 56%. Já no segundo mandato, com dois meses governo, sua aprovação era de 13%, pelo Datafolha.

Qualquer comparação entre o segundo mandato da presidenta Dilma e o desempenho do governo golpista deve levar em conta o cerco midiático que sofreu aquele, dentro da estratégia golpista, em relação ao amplo apoio que este tem tido por parte dos meios de comunicação.

A avaliação positiva do governo Temer é de 14%, similar à que a presidente eleita Dilma Rousseff tinha o final de seu mandato – 13%. A avaliação negativa caiu em relação ao último período Dilma, e um terço da população (31%) avalia Temer como ruim ou péssimo. Predomina, segundo a pesquisa, a avaliação regular para a maior parcela, 42%. Há ainda 13% que não souberam ou não quiseram opinar sobre o governo de Temer, taxa que caiu significativamente desde as primeiras pesquisas. No entanto, 33% afirmaram não saber o nome do atual ocupante do cargo de presidente da República (65% sabem que é Michel Temer).
O governo ilegítimo alçado por um golpe apoiado pelos setores com mais recursos, como a direita reacionária, o capital financeiro e com amplo apoio da mídia, obtém na prática resultado efetivo semelhante ao que o governo usurpado tinha. Os problemas que o governo legítimo enfrentava e se preparava para enfrentar, como a recessão econômica, o desemprego e a alta taxa de juros, o governo golpista não tem estratégias para vencer e, segundo os economistas, só serão dissipados a partir de 2017.

O apoio ao impeachment, que antes da votação na Câmara, em março de 2016, era de 68%, caiu até agora 10 pontos percentuais, para os atuais 58% a favor do afastamento definitivo da presidenta Dilma Rousseff. A despeito da queda do apoio, cresce a perspectiva de que a presidenta Dilma venha a ser afastada de fato, e o golpe se consolide (de 43%, em abril, para atuais 71%).

Um golpe que tem como seu conteúdo uma lista de ministros envolvidos em corrupção, investigados pela Lava-Jato ou que tentam obstruir sua investigação; expectativa de aumento impostos; cortes em gastos sociais como o SUS, Fies, Minha Casa Minha Vida; promessas de reformas da Previdência Social, com redução de direitos trabalhistas e aumento da idade mínima para aposentadoria; e privatizações de setores públicos considerados estratégicos como a Petrobras, Caixa, companhias de energia e o setor aéreo revelam a quem serve o golpe. Temer tem aprovação acima da média entre os mais ricos (23%), entre os que têm preferência partidária pelo PSDB (38%), até maior do que entre os que preferem o partido do vice interino Temer, PMDB (27%). Já entre os simpatizantes do PT, a reprovação ao peemedebista chega a 45%.

A pesquisa do Datafolha foi duramente criticada e acusada de cometer fraude jornalística e manipular dados para tentar alavancar a popularidade de Temer, ao afirmar em manchetes que 50% da população seria a favor da permanência do usurpador no mandato, ao não colocar em sua pergunta a alternativa de novas eleições.

Contatado por Glenn Greenwald, jornalista do veículo britânico Intercept, o Datafolha afirmou que foi a Folha, e não o instituto de pesquisa, quem estabeleceu as perguntas a serem colocadas. Reconheceu o aspecto enganoso na afirmação de que 3% dos brasileiros querem novas eleições, já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados e que alegar que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seria impreciso. A pesquisa também mediu o desempenho do presidente interino Michel Temer por meio de nota de zero a dez e a média obtida foi quatro. Quanto ao principal problema do país, a corrupção continua despontando no ranking, ainda que tenha caído cinco pontos percentuais (de 37% para 32%) em relação à última rodada, em março. A saúde manteve-se em segundo, com a mesma taxa (17%), empatando com o desemprego, que oscilou dois pontos para cima, de 14% para 16%, enquanto principal problema do país.

* As opiniões aqui expressas são de inteira responsabilidade de sua autora,
não representando necessariamente a visão da FPA ou de seus dirigentes.

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