segunda-feira, 29 de junho de 2015

EQUÍVOCO PERIGOSO

 Dom Demétrio Valentini

       
A redução da maioridade penal, de 18 para 16 anos, pode se constituir em equívoco, com sérias conseqüências. O que resta a fazer, é alertar a sociedade, advertindo-a das conseqüências negativas que esta decisão pode acarretar.

A grande maioria da população está a favor desta redução, achando que ela é necessária para coibir a violência, muitas vezes praticada por adolescentes. Aí identificamos o primeiro equívoco. Pois na verdade, os adolescentes são muito mais vítimas da violência, do que causadores da violência.

Achar que o problema se resolve aumentando o rigor da lei, é uma ilusão que precisa ser advertida. Além do mais, limitar a ação contra os menores infratores, sem apontar tantos outros fatores do aumento da violência na sociedade e nas famílias, é uma hipocrisia que precisa ser desmascarada.

Outro equívoco está no desconhecimento das severas medidas sócio educativas que o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente -  já prevê em seus dispositivos. Estas medidas, já propostas pelo ECA, necessitam de um esforço coletivo da sociedade, para serem executadas com o claro objetivo de proporcionar a correção dos infratores, para que possam ser reinseridos na sociedade.

Nestes dias escutei o depoimento de um pai, que me impressionou. Conversando sobre a diminuição da idade penal, ele disse prontamente: “Já entendi! O que eles querem é faturar nossas filhas mais cedo”.

Perguntei por que ele afirmava isto. Ele não teve receio de falar claramente: “com esta nova lei, se alguém explora uma menina de 16 anos já não precisa temer  a cadeia por violentar uma adolescente. Pois a nova lei supõe que uma menina de 16 anos já é adulta, e deve saber o que faz!”.

Outra alegação é que os adolescentes de 16 a 18 anos já não podem ser usados pelos traficantes de drogas, que antes recebiam a cobertura legal, e não podiam ser presos por causa da idade.

Acontece que os traficantes passarão a instrumentalizar adolescentes mais jovens, que ainda contam com a cobertura da lei. De tal modo que daqui a pouco, a maioridade penal vai incluir os adolescentes de 14 e 15 anos. De modo que os autores desta mudança legal podem guardar o esquema da nova lei, para dentro de pouco tempo usá-lo para baixar a idade penal para 14 anos. Qual seria, então, a proposta certa?

Esta pergunta é fácil de fazer, mas a resposta é complicada. Em todo o caso, é bom desmascarar logo a hipocrisia que se esconde atrás desta insistência em diminuir a maioridade penal de 18 para 16 anos.

Pretende-se responsabilizar as crianças e adolescentes, enquanto se teima em tolerar na sociedade aquilo que produz a violência, como as injustas desigualdades, a dissolução das famílias, a propagação da droga, o mau exemplo dos adultos em seu comportamento pessoal. O aumento da violência não é causado pelos adolescentes. Eles são mais vítimas do que causadores da violência.

Para combater a violência o leque de providências é muito mais amplo do que simplesmente aumentar o rigor da lei. Quando uma criança, em casa, se revolta, não adianta só aumentar o castigo. Pois pode bem ser que ela age assim porque não recebeu o amor que merecia. A solução mais autêntica é aumentar o amor, não o rigor!



Minha fé é política porque ela não suporta separação entre o corpo de Jesus e o corpo de um irmão.
Minha fé é política porque crê que a economia pode mudar um dia e ser toda solidária.
Minha fé é política porque acredito na juventude, na sua força e inquietude, no seu poder de diferença
e na força da velhice que com sua sabedoria e experiência ainda tem muito a colaborar, para um país justo, igualitário sem tantas injustiças sociais.. 

Pastoral Fé e Política
Arquidiocese de São Paulo
A partir de Jesus Cristo em busca do bem comum

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